O que me tornou rubro-negro
Acho que deixo bem claro para todo mundo minha paixão pelo futebol, oriundo disso, vez outra me pego refletindo o que me fez de fato amar o esporte de maneira quase que poética. Não muito diferente de qualquer menino brasileiro, nasci acompanhado pelos games de PS2 e pela incessante vontade de vestir a 10 do meu time do coração e me tornar profissional. Venho de uma família de origens cariocas e baianas, sendo minha mãe e seus irmãos nascidos e criados em Nova Iguaçu, cidade da Baixada Fluminense, e meu pai de Cachoeira, do Recôncavo Baiano. E apesar da minha vó, matriarca da família, ser dita vascaína, desde que me conheço por gente, o meu meio acabou que sempre esteve tomado de rubro-negros e tricolores.

Meu pai, trabalhador assíduo chamado Renilton (Nome esquisito demais pra brincar com o significado), não dava tanta importância assim para os jogos e para os times, mesmo sendo ele aquele que passava tardes jogando bolas para eu cabecear (E passar o restante do dia com a testa doendo) e sendo aquele que me apresentou ao fantástico Zico. Nascido em 69, meu pai tinha 12 anos durante 1981, o primeiro ano mágico do Flamengo. Eu gosto de acreditar que o que fez ele se apaixonar pelo futebol daquele Fla, que mesmo depois de 30 anos não saiu da mente dele, fazendo-o contar de maneira fantasiosa dos lances de Galinho ao seu filho mais novo, mesmo não dando a mínima pra futebol, é parte do que me faz amar o Flamengo.
É até engraçado falar de como me tornei torcedor, porque uma das minhas primeiras memórias de futebol é ver o Fluminense ser campeão brasileiro em 2010 e ouvir meu tio e vizinho comemorar igual louco, então me lembro que a alegria e gritaria me contagiou muito e por alguns segundos cheguei a simpatizar pelo time tricolor protagonizado pelo Fred (“o fred vai te pegar…” me aterrorizou por um tempinho). Eu ainda não tinha muito certeza do que era futebol, do que era o Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo (esse inclusive me lembro de aos 5 anos perguntar ao meu irmão se literalmente colocavam fogo em campo) e a única certeza que eu tinha era de que escolher o Barcelona de Messi, Xavi e Iniesta no PES era vitória certa.
Eu lembro de ficar com as memórias mais lúcidas a partir dos próximos anos. Com a chegada do Ronaldinho no Flamengo, que era pra mim o meu objeto de observação de highlights no Youtube preferido, mudou a minha vida como torcedor. Meu irmão, flamenguista doente, obviamente não deixou eu ir para o lado “mal” da força e torcer para o Fluminense, foi aí que ele me atraiu pra essa sina terrível que era torcer para o Flamengo de quase toda década passada, foi sofrimento atrás de sofrimento.
Minha primeira frustração foi em 2012, quando o Flamengo cai na frase de grupo da Libertadores, consequência de um gol do Emelec no Olimpia no fim do jogo. Talvez eu esteja bagunçando as memórias, mas lembro-me bem do meu irmão pegando todos os Mantos que tínhamos em casa, dispondo todos eles em cima do sofá como uma espécie de santuário rubro-negro, tudo para torcer pela vitória do Mengo. Nós ganhamos de 3x0 do Lanús, fizemos nosso trabalho, mas o Emelec vence no finzinho, eternizando uma icônica reação do Léo Moura (meu primeiro ídolo no futebol) ao gol. Na manhã seguinte eu estava revoltado conversando sobre o jogo com o meu xará Miguel, também flamenguista, de mesma idade e parceiro de bola, junto também de um falecido senhorzinho, que não me recordo o nome e que também lamentava muito a eliminação do rubro-negro. É a primeira memória que tenho de sentir que um sonho foi embora e eu sequer entendia o porquê (até hoje não sei se realmente entendo).

A partir daí virou rotineiro ver os jogos do Flamengo com meu irmão Thiago e provocar meu primo vascaíno Leô, já que na época os dois estavam quase que no mesmo buraco (mas só um caiu afinal…). Tenho memórias como um Flamengo e Náutico com ele (primeiro jogo que vi num bar), como aquele Flamengo e Vasco na final do Carioca de 2014 ou até o Flamengo e Santos de 2019 (gol de cobertura do Gabriel) pela rádio do carro, quando levávamos nosso pai ao trabalho. Era junto de assistir Cavaleiros do Zodíaco, uma das maneiras de me conectar muito fortemente com meu irmão e acredito ser até hoje o que mais nos une, é sempre diferente assistir um jogo do Flamengo com ele e compartilhar esses momentos felizes. Das três finais de Libertadores que vivemos, vi as duas últimas com ele, sofremos e fomos felizes. Acima de tudo, o Flamengo me fez espiritualmente mais próximo do meu irmão e sem dúvidas é um dos pilares mais fortes do amor que sinto por ele. Não seríamos os mesmos Thiago e Miguel se não fôssemos rubro-negros.
Eu nunca vou saber exatamente o que foi, o mais lógico é a influência do meu irmão, que na minha infância, querendo ou não foi uma das minhas inspirações e me empolgava cantando a música do Império do Amor. Se me encantou meu pai falando de Zico, ou se foi até o Ronaldinho usando a 10 e tornando o videogame realidade na minha frente, mas a única coisa que tenho certeza é que independente de tudo, ser rubro-negro me tornou o que sou. O Flamengo direta e indiretamente mexe com a minha vida. O Flamengo me faz ter paixão pelo esporte, me fez por diversas vezes dispensar amores para o acompanhar, e todos os dias afeta a minha forma de ver o mundo. Minha paixão pelo Flamengo me faz viver melhor ou pior. O Flamengo nos faz se reunir, se amar e se conectar e reconectar. Há dias que ser rubro-negro nos permite se sentir do tamanho que realmente somos. O Clube de Regatas do Flamengo nos engrandece de espírito.
