O Príncipe baiano de La Coruña

Miguel Castelo Branco
4 min readJun 28, 2023

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Bebeto é vastamente conhecido no mundo do futebol, principalmente pelos brasileiros, pela sua dupla encantadora com Romário com a camisa da Seleção Brasileira na Copa de 94. Os dois levaram o time limitado do Brasil ao título, tirando a Seleção Canário de uma fila de mais 20 anos sem ganhar a competição e marcando 8 dos 11 gols do time no torneio, sendo 3 de Bebeto e 5 do Baixinho.

O que muito torcedor não sabe é que, depois de fazer sucesso no Brasil com as camisas de Flamengo e Vasco e antes mesmo de ganhar o mundo com a amarelinha, Bebeto foi ídolo e campeão no Deportivo La Coruña. Na época, ele e o próprio Romário foram as sensações do campeonato espanhol.

Bebeto comemorando gol pelo La Coruña

Depois de ser campeão brasileiro em 87, novamente em 89 e artilheiro do Brasileirão de 92, além de vencedor das Bolas de Prata da Placar, o craque baiano chega ao La Coruña para temporada 92/93 junto do volante também brasileiro e também futuro campeão do mundo Mauro Silva, que vinha do Bragantino. Logo em sua primeira temporada o atacante é artilheiro da La Liga com 29 gols, levando o Dépor à terceira posição na tabela, apenas quatro pontos atrás do campeão Barcelona, além de conseguir uma vaga na Copa UEFA (Atual Europa League), até o momento inédita na história do clube espanhol.

Apesar de campanhas não muito boas em competições europeias e de amargar mais dois vices consecutivos da La Liga, o de 93/94 fica marcado por ter sido vice empatando em pontos com o Barcelona do craque holandês Johan Cruyff. O Dépor também presenciou seu cobrador oficial de pênalti Miroslav Đukić perder dentro de casa, no último minuto, um pênalti que seria o gol do título diante do Valencia, transformando-se em um dos maiores traumas da história dos galegos. Mas a história de Bebeto e desse grupo não terminaria de maneira tão trágica.

Miroslav Đukić após perder pênalti no minuto 90 contra o Valencia

No ano seguinte (94/95) o time de Bebeto teve a oportunidade de se redimir e se consagrar como a grande equipe do futebol espanhol que foi. Ao chegar à final da Copa del Rey o La Coruña tinha o forte Valencia pela frente, o mesmo time que simbolizava o amargo vice-campeonato da temporada anterior havia eliminado os favoritos Atleti e Real Madrid e contava com grandes jogadores como Mazinho, também campeão em 94, e Zubizarreta, goleiro da Espanha em 4 copas, hexacampeão da La Liga e campeão da Champions pelo Barcelona na temporada 91/92.

O jogo não era fácil, os dois times se respeitavam muito e o nervosismo tomava conta, mas o La Coruña de Bebeto sairia na frente depois de uma falha do zagueiro na saída de bola, entregando de bandeja o gol para o espanhol Manjarín. O caráter do jogo muda quando a chuva toma conta do estádio e o Santiago Bernabéu se tornara um dilúvio. Mesmo nessas condições, no minuto 70, Mijatovic empata para os Morcegos numa teatral cobrança de falta. Até que aos 79 o esporte fica impraticável, fazendo com que o árbitro remarcasse o restante do confronto para três dias depois.

Deportivo La Coruña e Valencia pela final da Copa del Rey de 1995 num Bernabéu alagado.

Foram três dias de agonia, mas o que eram três dias para um time que estava com um grito de campeão entalado há mais de 1 ano? O torcedor do Dépor precisava daquilo e não sabia ao certo se a chuva soava como Deus os torturando e mais uma vez acabando com sua festa ou se soava como tempestade antes do arco-íris. Bastaram 11 minutos para acabar com 72 horas de incerteza e Deus fazer o sol sorrir aos galegos uma vez. Manjerín se apresentara mais uma vez como herói e daria assistência para Alfredo cabecear e fazer o gol do título esbarrando no goleiro da seleção espanhola.

A geração de Bebeto no La Coruña ficaria marcada por levar o pequeno time da Galícia ao status de potência nacional e fazer todo o povo galego ir ao Riazor assistir, sendo a sensação de toda uma geração. O ídolo brasileiro foi símbolo de um time guerreiro, que não precisava do título para marcar época no futebol espanhol, mas foi gigante o suficiente para se reerguer e dar alegria a todo um povo. E é nessas pequenas histórias, nos times não tão vencedores quanto aqueles que ganham a Liga dos Campeões repetidamente, que o futebol se mantém vivo. O Deportivo La Coruña fez chover.

Time do Deportivo La Coruña comemorando o título
  • Miguel Castelo Branco, fanático por futebol antigo.

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Written by Miguel Castelo Branco

Brasileiro apaixonado por cultura, música, futebol e América do Sul.

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