O ídolo de uma geração de rubro-negros carentes de ídolos
Após a primeira grande década de sua história, que ficou marcada por um grupo tetracampeão brasileiro, campeão da Libertadores e do mundo, o Flamengo sente falta do maior de sua história, Zico. O Galinho e sua geração se despede em 89, que fecha com chave de ouro sua história com Júnior, um dos maiores símbolos do clube, que da Itália retorna conquistando a Copa do Brasil de 90 e o pentacampeonato brasileiro em 92. Deixando no já usual torcedor flamenguista um buraco no peito de saudades das conquistas de outrora, mas pior ainda, a carência de um símbolo rubro-negro para os torcedores que não tiveram o gosto de ver essas estrelas em campo.

Sávio, rubro-negro de coração e na base desde os 14, habilidoso e impiedoso logo se tornou xodó da torcida flamenguista, que rapidamente viu a semelhança de grandes craques de um passado recente que também foram formados na gávea. Virou titular e camisa 11 do time em 94 e com tamanha identificação, apesar de más campanhas do clube carioca virou símbolo e pilar central de uma geração carente de ídolos, que via no jovem jogador comprometimento e acima de tudo, amor à camisa. Assumiria a 10 em 1995.
Jogadores como o Sávio são antes de jogadores, torcedores, antes de campeões, ídolos, ordem muitas vezes invertidas. Não é preciso enfileirar títulos para se ter carinho por um símbolo, basta chacoalhar uma massa, fazer milhões sorrirem e trabalharem melhor dia após dia. O Anjo Loiro da Gávea fez o que os camisas 10 da gávea tem que fazer, é ter, como canta Jorge Ben, “Garra, fibra e amor… Pode não ser um jogador perfeito, mas a sua malícia o faz com que seja lembrado”. Nem sempre ‘novos Zicos’ serão feitos, mas sempre intermináveis apaixonados.

A 10 do Flamengo faz de bons jogadores, heróis de uma mística e fantasia inimaginável. O rubro-negro pós-Zico é prolixo, é um eterno “Mas e o Flamengo, hein?”, então quando essa camisa é entregue para quem usa o manto de escudo e entende que o vermelho visceral das bandeiras representa o vermelho do sangue de um povo trabalhador e vencedor por sua essência, o rubro-negro recupera seu sentido. Jogadores como o Anjo Loiro nos fazem lembrar o que é amar e ser o Clube de Regatas do Flamengo. É ter orgulho de si mesmo, de ser o rubro, de ser o negro.
- Miguel Castelo Branco, acima de tudo rubro-negro.