Adachi Mitsuru em H2 & sua única e delicada linguagem.

Introdução
Eu sou alguém que é apaixonado desde muito pequeno por esportes como futebol, basquete, handebol e vôlei, chegando até a praticar alguns. Mas essa paixão existe por diversos motivos, desde o fascínio pela competição, até achar intrigante observar a relação humana e sincera que se tem com as modalidades. Já que acredito que, o esporte, é uma das mais autênticas formas de se expressar sentimentos, visões de mundo e filosofias. Tenho esse pensamento simplesmente por enxergar como os atletas, a torcida e todos que se envolvem se entregam de forma apaixonada, intensa e quase ilógica ao meio, e cada um por motivos completamente distintos.
Outra modalidade que vejo tendo a mesmo força e potencial humano de se expressar como o esporte, é a arte. Por isso, eu sempre me vi muito alienado a mangás e animês que unissem estes dois canais. Então, depois de algum tempo me aventurando por ‘animangás’ de esporte, eu decidi finalmente dar uma oportunidade ao beisebol, já que é uma modalidade tão forte no Japão e nos EUA. Por que não então, começar esta jornada pelo mestre dos mangás de beisebol, Adachi Mitsuru? Comecei então pelo seu mangá mais longo, o H2.

Não era só um mangá de beisebol…?
Eu demorei para finalizar minha leitura de H2, e não era porque era chato, porque não estava gostando ou qualquer outra coisa, e sim porque eu sentia que essa era uma aventura que deveria sentir, apreciar e aprender junto dos personagens, enquanto eu mesmo crescia enquanto pessoa. Quando eu sentava para ler H2, era como se eu entrasse em um ambiente afável e caloroso, onde eu era abraçado por emocionantes verões e primaveras, cheios de sutis dramas e emoções naturais e orgânicas.
Eu cheguei esperando um mangá de beisebol cheio de ‘hype’, reviravoltas, gritaria, emoção gritada e tudo que um shounen comum pode lhe proporcionar, mas eu recebi, na verdade, personagens incríveis, com dinâmicas poderosíssimas, comédia incrível, e uma atmosfera ótima.
De forma mais objetiva que no parágrafo anterior, H2 se apresenta como uma simples e clichê aventuresco de beisebol que tem como lema “Vamos ganhar o Koshien!”, mas se revela como um romance poderosíssimo e complexo entre o quarteto principal de personagens, enquanto paralelamente desenvolve o seu rico elenco de personagens em seus respectivos arcos.

H2 e a sua linguagem.
“Tá, mas o que ele tem de diferente de um romance colegial bem trabalhado?” vocês me perguntam, e eu vos respondo: LINGUAGEM! MERA LINGUAGEM!
Nada é apresentado de forma muito verbal, escancarada e forçada, muitíssimo pelo contrário. Era de uma sutileza que jamais havia visto, seu mangá de forma singular já carregava consigo um turbilhão de emoções apenas devido a pouquíssimas palavras, juntas de imagens e expressões também absurdamente carregadas de sentimento.
Em nenhum momento o Adachi cai naquela enrolação de nunca dizer nada, já que mesmo que seus personagens e narrador nunca realmente verbalizassem algo tão relevante e que progredisse com a história, ele através de seus quadros, de pouquíssimas palavras, simbolismos, expressões faciais e movimentos conseguiam dizer mais do que 1000 palavras. E isso, eu admito ser de se impressionar… Eu nem sequer consigo pôr em palavras o quão artístico é Mitsuru Adachi, ele de fato é um mestre em contar histórias.
Eu adoro também como seus personagens representam ideias, conceitos e determinação apenas pelo seu jeito único de jogar beisebol. Um arremesso não se torna só um arremesso, se torna um catalisador de sentimentos e triunfos que tal personagem representa. Fazendo com que cada jogo, independente da importância no campeonato, se torne gigantesco conceitualmente.
Segue aqui uma das minhas passagens preferidas, e que representa bem a linguagem já dita: (CONTÉM FORTES SPOILERS) (PÁGINAS DA ESQUERDA PARA DIREITA)
É possível ver, por meio do olhar contemplativo de Hiro, que observa suas memórias e a natureza de forma singular, desamparo e melancolia. Para alguém como eu, que perdeu o pai, sei dizer o quão sincero e humano é este olhar. Logo depois, ele se vê confortado por Koga, e com meras palavras, que parecem não significar muita coisa, expressa imensa gratidão e carinho. Este é o poder que observo no texto de Mitsuru Adachi. É por isso que por fim concluo, que H2 é uma obra de arte, e seu criador um verdadeiro artista.

Fim.
Este texto aqui foi mais um desabafo que tudo. O Adachi é um mangaká tão pouco falado aqui no Brasil (E no ocidente em geral), e eu me senti na necessidade de fazer um texto expressando meu amor por tudo que este autor me proporcionou com sua forma simples, humilde, mas muito poderosa de contar histórias.
Obrigado, Adachi por moldar quem sou. Obrigado, leitor, por acompanhar este meu sincero e simples desabafo até o final.
~Miguel Castelo Branco, @micastelinho no twitter.